Nos romances de espionagem é frequente o toupeira, personagem que agindo ardilosamente desmonta a ação dos agentes opositores.
Vem-me à mente o ótimo romance de G. K. Chesterton, “O Homem que foi quinta-feira”, como exemplo do toupeira.
Mas, em nosso idioma, há o topeira. O indivíduo de poucas luzes, capaz de provocar grandes prejuízos com seu raciocínio limitado.
Vou tratar de ambos, analisando a política energética que é aplicada atualmente em nosso País.
Há várias maneiras de tratar a energia. Prefiro começar pelo início, ou seja, pela produção da energia primária. Lembro-me de quando estudei, pela primeira vez, este assunto, me espantei com a elevada percentagem da lenha (carvão vegetal), na matriz brasileira.
Anos depois, assessorando o Governo de Ghana no planejamento energético, foi o consumo de lenha que me levou a discutir com os representantes do Banco Mundial – com a ótica limitada do neoliberalismo – a política de preços da energia, pois a defendida por eles aceleraria a desertificação naquele país, como já ocorria no vizinho Burkina Faso.
No Brasil, os governos militares investiram na construção de hidrelétricas e na interligação dos sistemas elétricos no País, em refinarias de petróleo e no etanol. O quadro das principais fontes, entre 1965 e 1990, além do crescimento dos volumes, mostrou nova configuração.
Em 1965, por ordem de volume, tivemos a lenha, o petróleo e a hidráulica. Em 1990, o petróleo assumiu a dianteira, a lenha e a hidráulica disputavam o segundo, e aparece, pelo sucesso do proálcool, o bagaço de cana. De pouco mais de 50 milhões de tonelada equivalente de petróleo (tep), passamos para próximo aos 150 milhões tep – um salto tríplice em 25 anos.
Surgiam, neste período, questões que iriam prevalecer doravante no debate sobre energia: a energia não poluidora e a conservação de energia.
Podemos então afirmar que, com a “Nova República”, tivemos também uma revisão de prioridades e métodos de planejamento energético no Brasil.
Antes de prosseguir, é importante que os caros leitores, não afetos às questões da energia, saibam que, no mundo, os hidrocarbonetos: petróleo líquido e gasoso dominam quase inteiramente a produção de energia, inclusive na geração de eletricidade.
Isto significa que as mais fortes e poderosas pressões que recebemos vem das petroleiras e de toda economia que se desenvolve em torno da produção e consumo de petróleo, onde se encontram as termelétricas.
Estas empresas também atuam na geopolítica de seus países, hoje quase sempre servindo ao sistema financeiro internacional, que denomino “banca”. Trava-se uma disputa do petróleo com a água (hidrelétricas) na produção de energia primária.
Segundo o engenheiro e professor Ivo Augusto de Abreu Pugnaloni, a quem devo a ideia deste artigo e muitas das informações apresentadas, o “Brasil tem o maior potencial hidrelétrico remanescente e utilizável do mundo: 11% do total”.
O Brasil é rico em vários aspectos, menos no patriotismo e no nacionalismo de sua elite dirigente. Esta é constituída de toupeiras, impedindo, desde 1822, que tenhamos um país soberano e justo.
Uma das riquezas do Brasil está na abundância de seus cursos d’água, do caudaloso Amazonas a pequenos córregos existentes em quase todo País. A mais limpa e barata fonte primária de energia é a hidrelétrica.
A produção desta energia, quer nas Usinas de grande porte (UHE) – com reservatórios de mais de 3 km², gerando mais de 30 MW –, quer nas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) – com reservatórios até 3 km² e potência instalada entre 1,1 e 30 MW – quer mesmo nas Centrais Geradoras Hidrelétricas, que não exigem reservatório, e dispõe de menos de 1 MW de potência instalada, deveria ser a prioridade número um de toda política energética brasileira.
Mas as toupeiras sempre procuram obstar este caminho preferencial com questões falsas e pequenas diante do grande benefício para o Brasil. Afirma o professor Pugnaloni que, como é óbvio, a preferência das multinacionais do petróleo é pelas termelétricas a combustíveis fósseis, “sete vezes mais caras, por quilowatt-hora produzido, do que as hidrelétricas. Mera cópia e transposição do poluente sistema americano de gerar energia com carvão e petróleo, de cujas jazidas mundiais são controladoras”.
Vejamos agora este impatriótico projeto de extinção da Eletrobrás pelos golpistas que se apossaram do País em 2016.
Das opções apresentadas, o mais significativo benefício, pelo custo despendido, é com as UHEs. E nesta relação custo/benefício não estou descartando os custos sociais e culturais, que ocorrerão para maioria das novas usinas.
Mas tal empreendimento é típico do Estado. Dificilmente uma empresa ou um consórcio privado assumiria a construção, operação e manutenção de hidrelétrica de grande porte. Para os “neoliberais” que tem horror ao Estado, única instituição capaz de tratar igualmente todos nacionais, só interessa os “investimentos a fundo perdido” que o Estado realiza em prol do sistema financeiro, da banca.
Assim tratam de criar todo tipo de pressão, no que os interesses estrangeiros sempre lhe ajudarão, para que tenhamos as piores opções de geração de energia. E lembremos que a energia cara vai significar menor competitividade para a indústria brasileira.
Há, efetivamente, a questão dos regimes pluviométricos, que atingem as bacias hidrográficas e, consequentemente, os reservatórios e barragens. Mas fazem diferentemente distribuídos nas diversas bacias. “Estamos cansados”, diz Pugnaloni, “de ver anos em que há seca no Sul e excesso de chuva no Sudeste”.
Além disso, eles podem ser equilibrados com outras formas de geração de energia, como as térmicas a gás natural empobrecido e a biomassa e as eólicas. Limito-me às de mais barato custo de produção e de energia mais limpa.
A imprensa oligopolista, sempre a serviço dos interesses alienígenas, volta e meia assombra a população de topeiras com o medo dos apagões e da falta d’água. Até as novelas da Globo, de modo sub-reptício, em verdadeiro “merchandising”, descaradamente privilegiam a energia importada. Realmente, este medo é real sempre em governos tucanos, que como todo governo da elite escravagista, não investe no interesse da maioria da população.
Mas, além dos recursos que apresentei, o Brasil, hoje, é autossuficiente em petróleo. Melhor diria, poderia ser autossuficiente em petróleo se os golpistas de 2016 não estivessem transferindo para o exterior o controle de nossas reservas e da produção de óleo e gás.
No balanço energético de 2015, as três principais fontes primárias são o petróleo, o bagaço de cana e a hidráulica.
O uso menos nobre do petróleo é de gerador de energia elétrica, o mais nobre é de insumo petroquímico. Em torno desta realidade que se definiria o petróleo em nossa matriz energética. Mas o que vemos no governo golpista: paralisação das obras e cancelamento de projetos de novas refinarias e de polos petroquímicos.
Fica assim o Brasil queimando petróleo, importando derivados e proporcionando, como em quase toda sua história, gordos ganhos para os acionistas e financistas estrangeiros e as comissões de praxe para as elites brasileiras.
Este assunto não se esgota num artigo.
Gostaria de expressar meus agradecimentos ao engenheiro Ivo Pugnaloni pela importante colaboração e deixar claro que toda responsabilidade pelas críticas e proposições é unicamente minha.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado pedroaugustopinho@aeiou.pt
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