Tuesday, June 6, 2017

A MEDIOCRIDADE QUE NÃO DEIXA PENSAR NOS NETOS

Prezados Compatriotas,

    Parece realmente incrível que as pessoas, presas a seus umbigos, não vejam a destruição social, econômica, psicológica, moral e até das nacionalidades, provocada pela ação do sistema financeiro internacional, a banca, em toda humanidade. O que ainda considero pior é que escolhem, em total desacordo com a contemporaneidade, fantasmas, sem qualquer efetividade, para se escusarem de enfrentar a cruel realidade desta “nova ordem mundial”. 

Ora é o comunismo, como se Cuba ou a longínqua e desconhecida Coreia do Norte estivessem nos invadindo, ora o Foro de São Paulo, um grupo de intelectuais, políticos e sindicalistas, mais ingênuos e desprovidos de força do que o Grupo Bilderberg ou a Comissão Trilateral. Enfim, buscam mascarar a banca, que é presente e destruidora, procurando piolho em cobra, que, por sua natureza,  está lhes envenenando.

        CRISES DO CAPITAL E AUTOFAGIA ECONOMICO-FINANCEIRA

Na análise de Youssef Cassis (Les Capitales du Capital, Slatkine, Genève, 2006) é a partir de 1918, com o fim da I Guerra Mundial, que Nova Iorque sucede Londres como a capital do capital financeiro. A fundação do atual JP Morgan Chase, por John Pierpont Morgan, em 1895, é dada como início desta nova era da banca.

Não faremos história, apenas apontaremos alguns fatos que esclareçam, a quem ainda duvidar, o empoderamento das finanças sobre a economia e todas as ações humanas neste último século (1917/2017).

Uma característica, herdada do financismo colonial inglês e ampliada nesta globalização vigente é da destruição das nacionalidades. Não se pense em maldades, a banca não tem emoções, é pura racionalidade administrativa. Enfrentar leis e regulamentos nacionais envolve custos, menos agilidade operacional, adaptações a burocracias distintas, enfim, uma série de óbices que podem ser extintos com a universalização dos procedimentos.

 E qual melhor regulamento do que a desregulamentação?

 Ampla, geral, irrestrita. Pronto, estamos no Estado Mínimo, antecessor do Nenhum Estado. Exemplo: Líbia, Iraque, União Europeia (ainda em processo), e, a passos largos, o Brasil pós golpe de 2016.

A moeda é outra vertente. Após a II Guerra Mundial colocou-se o dólar como a moeda da universalização financeira. Conseguiu-se muito, muitíssimo. Mas, felizmente, a banca também comete erros e pode ser enfrentada com sucesso. Vejamos o monopólio do dólar sobre o petróleo. 
Era, e ainda o é, em grande parte, a moeda das transações do “ouro negro”. 

Com isso, todos os países mantinham, sob diferentes formas, reservas em dólar dos Estados Unidos da América (EUA). Mas não só os países importadores, todos os exportadores também acumulavam dólar, o que levou a uma situação de pletora de dólares e, em consequência, uma repatriação da moeda. Lembram De Gaulle? Foi também por sua ação que o Presidente Nixon, em 1971, revidou desligando o dólar do seu lastro em ouro (US$35 por onça troy), e provocando uma sucessão de crises econômicas.

 O Brasil, dos governos militares, foi um dos grandes prejudicados, fortalecendo a oposição, que já contava com suporte neoliberal (que pena não poder culpar o petismo ou o bolivarianismo!). Outro exemplo está na destruição do Iraque. Recordemos que Saddam Hussein, em novembro de 2000,  decidiu vender o petróleo iraquiano em euros. E, não por acaso, Paris e Berlim não se associaram a Washington, em 2003, contra o Iraque. A geopolítica do petróleo, por muito tempo, esteve vinculada à hegemonia do dólar.

Vê-se pois, que também repercutem, na moeda da banca, os seus fracassos e a dificuldade de manter as crises que a alimentam. Talvez esteja aí a febre “bitcoin”. Como dizem os analistas da bolsa: a conferir.

2008 E OS PASSOS SEGUINTES

As “crises” pela ação da banca decorrem, basicamente, de seus próprios objetivos: a apropriação de todo ganho da economia pelo sistema financeiro e a permanente concentração de renda. Mas também está na distância crescente que separa o mundo da economia real daquele da economia dos papéis. Hoje já se perdeu a noção da quantidade de vezes que os barris de petróleo, negociados nos mercado financeiros, superam os efetivamente existentes. Apenas para continuar no exemplo petróleo, pois o mesmo se aplica a toda e qualquer commodity.

Perguntado sobre qual a mais aceita teoria econômica que contrariava o senso comum, o Prêmio Nobel de Economia, Paul Samuelson, respondeu de pronto: a das vantagens comparativas (formulada no século XIX por David Ricardo). Em 1999, quando do encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC, filha do “Consenso de Washington”, em Seattle (EUA), a enorme mobilização popular contestando a OMC, seus projetos e propostas, confirmou o autor do mais popular manual de introdução à economia.

Uma das consequências da imposição da economia liberal, desde os anos 1980, foi o desmantelamento das políticas desenvolvimentistas. Veja o ocorrido na América Latina (AL): as taxas dadas pela variação do Produto Interno Bruto (PIB), para a média da região, foram, entre 1960 e 1980, de um crescimento de 3,1% e, entre 1980 e 2000, de apenas 1,7%. Recordemos que o Brasil, para o primeiro período, sob governos militares, guiou-se por Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND). A partir de 1980, com crescente empoderamento da banca, tivemos as políticas financeiras sobrepondo-se às políticas industriais, principalmente entre 1995 e 2000, nos governos de Fernando Henrique Cardoso.

Com a “crise” de 2008, os Estados Nacionais: EUA, Alemanha, Reino Unido, Japão passaram a transferir recursos públicos, originados de tributos, para cobrir os déficits das instituições financeiras: bancos comerciais, bancos de investimentos, seguradoras etc. Genericamente, estes aportes públicos a instituições privadas foram denominados Quantitative Easing (QE), embora sob esta designação apenas se computassem parcelas destes desvios. Ao todo, nos EUA, Reino Unido, Japão e União Europeia, a “iniciativa privada” foi beneficiada, pelo insucesso de suas especulações, com cerca de trezentos trilhões de dólares. E, conforme afirmação de Stephen Williamson, vice-presidente do St. Louis Federal Reserve Bank, em agosto de 2015, esta enorme quantia não acarretou qualquer melhora na economia. E mais, ele confessou que experiências análogas realizadas anteriormente no Japão e na Suíça também conheceram malogros.

PERSPECTIVAS ATUAIS

Poderia discorrer sobre o embate teórico que surge atualmente contrastando o pensamento universalista que a União Europeia é o grande exemplo, com o regionalista ou nacionalista, que a Rússia serve de modelo, e envolve os pensamentos de Jürgen Habermas e David Ricardo de um lado, e, de outro, de Johann Gottlieb Fichte e Friedrich List.

Mas vou tratar do que a mídia brasileira resolveu erigir como a batalha fundamental para o futuro de nosso País: a corrupção ou, contrariamente, pela virtude individual, pela honestidade pessoal.

Pergunto, de início, ao atento leitor: os QEs, recém referidos, seriam instrumentos de probidade administrativa? Ou, propondo mais tecnicamente a questão: transferir os recursos que foram captados da população, sob a forma de tributos - para promover sua segurança, sua educação e seu bem-estar - para cobrir especulações, que a parcela mais rica do país malbaratou, é um ato de lisura, principalmente quando se reconhece que de nada adiantariam para a economia nacional?

A honestidade, colocada como questão individual, pouco significa diante de uma desonestidade institucional, para não se chegar à fraude de uma ideologia.

Aos que proclamam estar o Brasil no ápice da corrupção, eu retrucaria: sempre que nosso País foi dirigido pelo capitalismo financeiro tivemos os picos de corrupção. Isto ocorreu no escravagista Império, na Primeira República - quem  discordar pode começar a estudá-la melhor - e após o Governo Geisel. A história das privatizações, que ainda não foi bem conhecida pelos brasileiros, vai revelar o quanto de prejuízo já teve e ainda terá a Nação.

Pensar no futuro do Brasil não é, em hipótese alguma, promover “reformas” que tirem direitos do povo brasileiro e aumentem o poder da banca. É, primeiramente, resgatar a pouca democracia que tivemos, ampliá-la com a construção da cidadania e, em seguida, elaborar planos de desenvolvimento: sociais, educacionais, culturais, econômicos, científicos, tecnológicos, e promover a soberania nacional.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

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