Saturday, September 29, 2018

Os Camaleões Estão no Poder

    Nenhuma pesquisa social é necessária para que saibamos serem os pobres a maioria da sociedade. Podemos ter pobres com melhores condições de vida (países nórdicos no século XXI) e outros sem qualquer meio de subsistência, dependentes da vontade de outras pessoas, mas, qualquer limite que se estabeleça, a parte inferior da quantificação será algumas vezes maior do que a superior.

Para manutenção desta situação, os poderes, não os governos que são uma espécie de gerentes, empregados do dono, promovem toda sorte de ilusões, crenças, fantasias, mistificações para que a minoria mantenha sua situação poderosa e confortável distante daquela maioria.

Feita esta abertura, tratemos do Brasil neste período que antecede as eleições gerais para o governo federal e os estaduais (executivo e legislativo).

Por que a expressão de poder sem voto manda no Brasil?

Temos, por início, uma incongruência. 

Se todo poder emana do povo, como uma categoria não eleita pelo povo se transforma em poder? 
E ainda mais, passa a dirigir as ações dos escolhidos pelo povo?

Para isso precisamos entender o cenário político que nos envolve e como se montou esta dramaturgia.

Questões social e nacional ou questão moral

Para não voltar muito longe na história, vejamos as saídas dos totalitarismos no mundo ocidental no século XX.

Exceto os Estados Unidos da América (EUA), cuja situação é peculiar e será tratada adiante, os países da Europa, das Américas e da África passaram, no século passado, por governos autoritários, totalitários, por ditaduras. As pouquíssimas  exceções não criaram opções significativas.

Mas a derrota do autoritarismo, com ingredientes raciais, na Europa e no Japão, com a II Grande Guerra, permitiu diversas independências, novos acordos de governabilidade e uma pacificação política que refletia o desejo de paz dos povos.

Também não é necessário esmiuçar acordos locais, regionais nem mesmo nacionais. Tomo com exemplo dois acordos que refletem bem esta situação, os Pactos de la Moncloa.

A Espanha saia da guerra civil que a levara a 37 anos de ditadura franquista. Francisco Franco governou de 30/janeiro/1938 até, praticamente, sua morte em 20/novembro/1975, embora afastado pela doença desde junho de 1973.

Mortes, torturas, corrupções, traições, perseguições foram o cotidiano espanhol ao logo destes anos do poder de Franco. Era necessário, antes de tudo, estabelecer entre os beneficiados e os prejudicados, entre os que seguraram as armas e a quem foram dirigidos os tiros, entre os sempre ricos e os sempre pobres, acordos de convivência.

Estes foram o “Acordo sobre o programa de saneamento e reforma da economia” e “Acordo sobre o programa de atuação jurídica e política”, firmados pelos partidos políticos com representação parlamentar em 1977, associações empresariais e três grandes organizações sindicais.

Mas, como é óbvio, acordos para sair de crises são datados, a vontade da maioria da população acabará por se impor, salvo se este povo esteja iludido, sejam-lhe colocadas opções que não correspondem aos seus verdadeiros problemas e nem às suas soluções.

A banca é o lado mais nefasto do capitalismo

Desde meados do século XX, o capital financeiro internacional (banca) buscou derrotar o poder industrial, seja capitalista seja socialista. Para tanto começou a colocar as denominadas “questões transversais”.

A primeira, que atingiu fortemente o mundo industrializado, foi a ecológica, em todas as suas manifestações, desde a preservacionista radical até o uso racional dos recursos naturais.

Reflita comigo o caro leitor.

 “Salve as baleias” tem apelo suficiente para reunir tanto dinheiro que compre barcos, pague página de jornais de influência como “The New York Times”, vire protesto em cidades europeias? 

Ou houve dinheiro de quem é especialista na multiplicação deste “vil metal”?

A banca soube iniciar sua campanha pelo poder comprando a mídia, os veículos de comunicação para o povo. Da rádio regional aos produtores de Hollywood, do jornal de bairro às mais célebres publicações, citações obrigatórias até em teses acadêmicas. E também as academias, que lhe passam a dar o suporte dos cientistas, dos prêmios Nobel, dos “gênios” às maquinações da banca.

Criaram-se assim, e em pouquíssimo tempo, navegando nas tecnologias da informação e da comunicação, as certezas que reviraram a sociedade. Das drogas nas liberdades de 1968 à criminalização da ideologia socialista.

Permitam-me transcrever um desmentido à verdade da austeridade econômica ou financeira pelo professor de economia da Sorbonne, autor de numerosos trabalhados e ex-presidente do Conselho Científico da Associação pela Tributação das Transações Financeiras para Ação da Cidadania (ATTAC), René Passet, em tradução livre:

“Há incontestável relação entre a redução do tempo de trabalho e o número de empregos. Por exemplo, entre 1973 e 1994, na França e na Alemanha, o número total de assalariados, malgrado a crise, passou respectivamente de 21 para 22 milhões e de 26,65 para 28 milhões, no mesmo período em que o tempo médio de trabalho baixou de 1.900 para 1.600 e de 1.870 para 1.580 horas, tanto para um quanto para outro país” (“Éloge du mondialisme par un “anti” présumé”, Fayard, 2001).

Vejamos apenas mais um caso, que toma enorme espaço nos discursos eleitorais deste ano: a violência. Leonel Brizola, dos maiores políticos brasileiros, escreveu dois artigos, dentre seus célebres Tijolaços, que denominou “O ovo da serpente”, em 09/01/1992, e “O ovo da serpente (3)”, em 31/01/1993.

Neles está demonstrado pelo trabalho de equipe de pesquisadores, como a Rede Globo incentivou e glamourizou a violência. Nas palavras de Brizola:
“O que esses pesquisadores encontraram foi uma verdadeira escola do crime e da violência”. “E não se diga que isso é veiculado nos chamados programas para adultos. A programação infantil é repleta de imagens de violência, inclusive em desenhos animados, com 58 cenas diárias de violência” (em 09/01/1992).

“Uma nova pesquisa, realizada por uma equipe de 11 pesquisadores - pedagogos, jornalistas e outros profissionais - revelou (um ano depois) números ainda mais alarmantes. Durante 111 horas, os pesquisadores assistiram 83 programas e verificaram que a Globo exibiu nada menos que 288 homicídios ou tentativas de homicídio, 386 agressões, 248 ameaças, 56 sequestros, 11 crimes sexuais, 71 casos de condução de veículos sob efeito de drogas ou com perigo para terceiros, 7 de uso ou tráfico de drogas, 65 de formação de quadrilha, 43 roubos, 16 furtos, 7 de estelionato e mais 183 crimes. Em apenas uma semana.... O mais triste destaque, porém, é aquilo que se constatou na programação infantil. Ali, as cenas de violência, que há um ano representavam 34,9% do total, chegam agora a nada menos que 51,1% de toda a violência na TV” (em 31/01/1993).

A excentricidade estadunidense

Os EUA tiveram na guerra civil - a guerra da secessão de 1861/1865 -, mais do que nas lutas pela independência, a compreensão da relatividade do poder fundiário que a aristocracia europeia entenderia após o passeio militar de Napoleão, alterando as tradições de duques e barões.

Assim, a classe dirigente do País construiu um sistema político-administrativo que incentivasse a produção industrial. Como não havia a vulnerabilidade das importações, pelos volumes produzidos na Europa e pelos direitos alfandegários implantados desde 1860, pode prosperar o “Sistema Americano de Fabricação”.

A mão-de-obra não era problema para o país que a população mais do que dobrou, entre 1860 e 1900, de 30 para 76 milhões de habitantes.

Também a concorrência e as crises destes primeiros tempos proporcionaram a concentração de capital, logo do poder, que, então, definiria as regras para sua manutenção. Morre a “América Jeffersoniana” que serviu para o mito estadunidense, muito bem aproveitado por Donald Trump em sua campanha.

A visão da nação agrária, de pequenos fazendeiros, do esforço da vontade e da honestidade, se desfaz, abalada pelo padrão do lucro e da concentração de renda.

Mas persistiu, levada pela habilidade da pedagogia colonial interna, pelo uso da comunicação de massa, de quem já nos anos 1920 produz industrialmente a televisão, o conjunto de valores para o povo quem nem de longe era o da elite.

E esta hipocrisia do poder será levado a todo mundo com o empoderamento dos EUA após a II Grande Guerra. Também este país conhecerá as novas regras da banca. Os conflitos, que a administração Trump vive, não são devidos a sua personalidade mas ao jogo do industrialismo com o financismo, em toda estrutura de poder, e da pressão geopolítica-jurídica-midiática.

Ainda é cedo, em minha percepção, para definir a resultante destes embates. Mas, para o Brasil, teremos o recrudescimento colonial, já atuando fortemente no golpe de 2016 e nas pressões sobre o governo que vier a dirigir nossa Nação em 2019.

A ditadura jurídico-militar-midiática

O Portal Pátria Latina, comentando a designação de um general quatro estrelas para assessor do novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), escreveu:
“Esta junção jurídico-militar poderá dar a Dias Toffoli um lugar em nossa história político-administrativa” (“Recrutando generais: o STF atual lembra a Idade Média europeia”, 24/09/2018).

As ditaduras militares, deixando a personalidade e o voluntarismo dos chefes se imporem nas decisões, não interessa à banca. Ela prefere os que se submetam a seu mais competente argumento: a corrupção.

Um parlamento funcionando é muito melhor do que um ditador governando. A “liberdade de imprensa”, principalmente quando está quase inteiramente comprada, é um valor democrático insubstituível, como o poder sem voto dos magistrados é da mais pura essência da “tripartição de poderes”, harmônicos e interdependentes.

E os novos “fakes” - notícias, sentenças, processos, inimigos - vão surgindo como nas distopias mais perversas, da novilíngua, do Ministério da Verdade, em “1984”, de George Orwell.

No Evangelho de Lucas (9, 18-22), lido no dia de hoje, 28/setembro, nas Igrejas Católicas em todo mundo, Jesus pergunta: “quem dizeis que eu sou?”.

Pergunte-se, caro leitor, quem está defendendo as condições mais importantes para você, sua família, seu País?

Os que seguem os temas e os projetos da banca? Os que se deixam iludir, por boa fé ou por ignorância, que as “instituições estão sólidas e funcionando”, que foi a corrupção de quinze anos, e não a das elites que sempre governaram o Brasil, que nos deixaram esta pedagogia e esta economia coloniais?

No Eclesiastes (3, 1-11) da Missa de hoje se lê: (Há) tempo de atirar pedras e tempo de as amontoar”.

No exemplo dos pactos de Moncloa, o tempo era de amontoar.

E concluo com a magnífica mensagem que o historiador francês, Pierre Vilar, no Epílogo de janeiro de 1978, encerra seu livro “História da Espanha”, em tradução livre da versão de M. Dolores Folch, para o Editorial Crítica, Barcelona:

“O Pacto de Moncloa comprometeu todos partidos com parlamentares, incluídos os comunistas, a repartir equitativamente os sacrifícios entre todas as classes sociais. Porém, o que quer dizer equitativo? Que pensarão sobre isso os operários e os desempregados?

 E, se é aplicada uma autêntica justiça fiscal, o descontentamento não alcançará também as empresas em crise? Nem a luta de classes, nem os abalos conjunturais do capitalismo desaparecem pelos acordos políticos, como o Pacto referido. E não se pode ficar sem apresentar algumas questões: quem acredita governar e quem governa na realidade?

 O que querem as massas, os grupos, os homens?

 Aspiram apenas a troca política ou, também, a mudança social? 

Somente liberdade ou, também, a igualdade? As autonomias regionais ou, por meio delas, uma federação de socialismos? 

Quem sonha uma revolução e quem aspira um cargo ministerial? Tem início uma nova batalha, demasiadamente parecida com as de 1931, 1934 e 1936*. Felizmente a história nunca se repete”.

*Nestes anos a direita se manifestou, gerando conflitos, em Sevilha, Catalunha e Astúrias. O biênio 1934-1936 é designado “biênio negro”. Em 1936 tem início a guerra civil na Espanha.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

Tuesday, September 25, 2018

THIS IS THE GLOBAL PROBLEM

de:Bernie Sanders info@berniesanders.com
responder a:info@berniesanders.com
para:Paulo Augusto Lacaz <sccbesme.humanidade@gmail.com>
data:24 de set de 2018 19:40
assunto:This is a global problem

Bernie Sanders

Paulo Augusto,
For the past 40 years in this country, our great middle class — once the envy of the world — has been disappearing. All over America, people are working two or three jobs, scared to death about the futures of their children, while almost all new income goes to a small number of people at the top.
But this is not a uniquely American phenomenon.
All over the world, people are seeing that same tendency. Today, in the global economy, the top 1 percent owns more than the bottom 99 percent, and a handful of billionaires own more than the bottom half of people around the world — that’s 3.7 billion people.
That is the reality. People in our own country, and around the world, are angry, and they feel that nobody is listening to their pain.
And one of the results of that reality is that in Europe, in Russia, in the Middle East, in Asia and elsewhere we are seeing movements led by demagogues who exploit people’s fears, prejudices and grievances to achieve and hold on to power.
And while these regimes may differ in some respects, they share key attributes: hostility toward democratic norms, antagonism toward a free press, intolerance toward ethnic and religious minorities, and a belief that government should benefit their own selfish financial interests.
These leaders are also deeply connected to a network of multi-billionaire oligarchs, motivated by greed and power, who see the world as their economic plaything.
This trend certainly did not begin with Trump, but there’s no question that authoritarian leaders around the world have drawn inspiration from the fact that the leader of the world’s oldest and most powerful democracy seems to delight in shattering democratic norms.
Other authoritarian states are much farther along this kleptocratic process. In Russia, it is impossible to tell where the decisions of government end and the interests of Vladimir Putin and his circle of oligarchs begin. They operate as one unit. Similarly, in Saudi Arabia, there is no debate about separation because the natural resources of the state, valued at trillions of dollars, belong to the Saudi royal family. In Hungary, far-right authoritarian leader Viktor Orbán is openly allied with Putin in Russia. In China, an inner circle led by Xi Jinping has steadily consolidated power, clamping down on domestic political freedom while it aggressively promotes a version of authoritarian capitalism abroad.
So the question is: Where do we go from here?
To effectively oppose right-wing authoritarianism, we cannot simply go back to the failed status quo of the last several decades. In order to fight this trend, we need to strengthen the global coalition of progressive Democrats.
While authoritarians promote division and hatred, we will promote unity, inclusion, and an agenda based on economic, social, racial, and environmental justice.
Governments of the world must come together to end the absurdity of rich and multinational corporations stashing over $21 trillion in offshore bank accounts to avoid paying their fair share of taxes and then demanding that their respective governments impose an austerity agenda on their working families.
It is not acceptable that the fossil fuel industry continues to make huge profits while their carbon emissions destroy the planet for our children and grandchildren.
It is not acceptable that a handful of multinational media giants, owned by a small number of billionaires, largely control the flow of information on the planet.
It is not acceptable that trade policies that benefit large multinational corporations and encourage a race to the bottom hurt working people throughout the world as they are written out of public view.
It is not acceptable that, with the Cold War long behind us, countries around the world spend over $1 trillion a year on weapons of destruction, while millions of children die of easily treatable diseases.
In order to effectively combat the rise of the international authoritarian axis, we need an international progressive movement that mobilizes behind a vision of shared prosperity, security and dignity for all people and that addresses the massive global inequality that exists, not only in wealth but in political power as well.
Such a movement must be willing to think creatively and boldly about the world that we would like to see.
We must take the opportunity to reconceptualize a genuinely progressive global order based on human solidarity, an order that recognizes that every person on this planet shares a common humanity, that we all want our children to grow up healthy, to have a good education, have decent jobs, drink clean water, breathe clean air and live in peace.
Our job is to reach out to those in every corner of the world who share these values and who are fighting for a better world.
In a time of exploding wealth and technology, we have the potential to create a decent life for all people. Our job is to build on our common humanity and do everything that we can to oppose all of the forces, whether unaccountable government power or unaccountable corporate power, who try to divide us up and set us against each other.
We know that those forces work together across borders. We must do the same.
Thank you for reading.
In solidarity,
Bernie Sanders

A ENTREGA DE NOSSO PATRIMÔNIO NACIONAL.

De: Pedro Augusto Pinho <pedroaugustopinho@hotmail.com>
Para: 
Assunto: Presidenciáveis e Petrobrás
Data: Ter 25/09/18 11:01

Aos Companheiros da AEPET,
É lamentável que, a exceção dos candidatos CIRO GOMES, GUILHERME BOULOS, FERNANDO HADDAD e JOÃO GOULART, os demais não se manifestam, em seus programas de governo, em defesa da PETROBRÁS e do nosso petróleo, assunto da maior relevância para nossa economia, desenvolvimento e Soberania.
Mais lamentável, ainda, são as posições ambíguas ou explícitas dos candidatos BOLSONARO ("bem desenhadas golden shares"),
ALCKMIN ("privatizar de maneira criteriosa"), MEIRELES, AMOÊDO que querem entregar tudo. MARINA, ALVARO DIAS e o CABO se omitem.

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AGORA  O COMENTÁRIO DE P.A. LACAZ.

O PIOR É QUE OS ATUAIS MILITARES BRASILEIROS NADA FAZEM PARA MORALIZAR A DESTRUIÇÃO DE NOSSA NAÇÃO. ELES NÃO POSSUEM MAIS A NOÇÃO E A PRATICIDADE DO ESPÍRITO DE SOBERANIA NACIONAL, PARA O BEM SOCIAL DO POVO BRASILEIRO. GETÚLIO VARGAS E ERNESTO GEISEL TROUXERAM BOAS LEMBRANÇAS DE SUAS ÉPOCAS.  http://societocratic-political-regime.blogspot.com/2018/09/exercito-contra-o-povo.html
  

Sunday, September 23, 2018

A Ideologia que Envenena o Mundo

O neoliberalismo vem destruindo Estados Nacionais, provocando guerras, migrações, desemprego e fome.

E traz, cinicamente, o discurso da liberdade, do enriquecimento pela competição. 

Tem como arma a desinformação, a farsa e a corrupção. 

Não resiste, nem na academia nem na economia das pessoas e das empresas, o confronto com a filosofia, a primeira, e a realidade, a segunda.

Liberdade é uma condição relacional, ocorre nas relações humanas, não é fé. 

Competitividade só existe entre iguais, entre aqueles que dispõe dos mesmos atributos.

Escrevo há alguns anos sobre o sistema financeiro internacional, que abrevio por “banca”. 

Este sistema traz a ideologia que se derrama pelo mundo e, do mesmo modo que a  cicuta, vai envenenando povos, estados, destruindo postos de trabalho, provocando guerras e migrações, mortes que nos remetem à peste negra da Idade Média.

Há até semelhanças entre a peste negra do século XIV e o neoliberalismo.

Aquela é apontada como um fator responsável pelas crises do fim do feudalismo, e este pela derrocada de dois princípios que vinham norteando a humanidade na era cristã:

                                   a fraternidade e a solidariedade.

Construção do neoliberalismo

O termo foi cunhado, na década de 1930, por um grupo de acadêmicos de economia e direito ligados à Escola de Freiburg (Friburgo), na Alemanha.

Publicavam o jornal “Ordo”, defensor do “Ordoliberalismus” (Liberalismo Ordenado).  A senha do Ordoliberalismo é liberdade e competição.

É possível liberdade?

O que é liberdade? 

Como se exerce a liberdade?

 O que se opõe à liberdade?

No volume “La Philosophie”, da coleção editada pelo Centre d’Étude et de Promotion de la Lecture (Paris, 1969), lê-se, em tradução livre: “Liberdade - 

Esta palavra chave do pensamento, bem como da vida dos povos, conheceu altos e baixos, a partir das revoluções que, desde 1789 e séculos seguintes, permitiram à burguesia conquistar o poder político. 

A Declaração dos Direitos dos Homens proclamava que os homens nascem livres e iguais em direito”. “Marx, em “O Capital”, denunciava a hipocrisia dos pensadores liberais e a opressão exercida pela classe que representavam”.

José Ferrater Mora discorre longamente no verbete “Libertad”: conceito que “foi entendido e usado de muitas diversas maneiras e em muitos diferentes contextos desde os gregos até o presente” (Tradução livre do Diccionario de Filosofia Abreviado, Editorial Sudamericana, Buenos Aires, 1970).

O pensamento liberal, assim como o neoliberal da Escola de Freiburg, reduzem a liberdade à ideia econômica, acusando o Estado como seu restritor.

Uma ideia absolutamente diversa de pensadores tão diferentes quanto Henri Bergson (1859-1941), filósofo do impulso da criação (élan vital), José Ortega y Gasset (1883-1955), pedagogo da circunstância do homem, e Jean-Paul Sartre (1905-1980), pensador e romancista do existencialismo..

Entre 25 de setembro e 31 de outubro de 2000, a Prefeitura do Rio de Janeiro patrocinou o seminário “A Invenção da Liberdade”, organizado por Adauto Novaes, com professores nacionais e estrangeiros, e de diferentes perspectivas ideológicas. Deste seminário resumo algumas considerações.

O organizador abriu o encontro afirmando que “as discussões sobre democracia e liberdade devem ser permanentes. Mais do que ideias, elas devem ser entendidas como “matrizes de ideias” às quais devemos dar sentido e através das quais criamos novos emblemas que nos levam a ver o mundo de forma diferente e a refazer tudo aquilo que já estava sedimentado”.

Charles Malamoud, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, perguntou, no Seminário, “a maior democracia do mundo será verdadeiramente democrática?”, pois a Índia abriga a noção poderosa e hierárquica de ideologia sociorreligiosa, constituindo um entrave para o desenvolvimento.

Hannah Arendt (1906-1975) afirmava que a liberdade só existe associada aos outros, na junção de desejo e poder.

O pensamento único, do neoliberalismo, do mercado, é a mais nítida manifestação contra a liberdade, um projeto do totalitarismo, cuja “Escola sem Partido” se transforma na “Escola do Partido Único”, da ausência de liberdade para pensar.

O neoliberalismo é uma retomada totalitária da escravidão à dívida, da exclusão dos indefesos.

Há competitividade?

O ideal neoliberal do mercado “autorregulado”, como principal propulsor na busca da riqueza, é um dogma do século XVIII: oposição ao mercantilismo dos monarcas.

Seu principal pensador é Adam Smith (1723-1790), para quem os indivíduos são seres isolados, cujas ações refletem principalmente seus interesses pessoais e materiais: o egoísmo. Ele tratava as questões econômicas como distintas das políticas.

Mais tarde, David Ricardo (1772-1823) criará a ideia da “vantagem competitiva”, que, se implantada, levaria o mundo a exclusões absolutas. E, como seu antecessor, repudiava a interferência do Estado.

Tanto a liberdade quanto a competitividade não existem em sociedades caracterizadas pelas diferenças, exclusões, direitos e obrigações variando segundo as classes econômicas e sociais, na repetição aristotélica de cidadão, o de “alguém de origem conhecida que podia se manter com seus escravos e mulheres”.

O resultado desta “liberdade” e “competitividade” está na composição acionária de toda grande empresa internacional. 

Em todas elas, com valores significativos, estão as mesmas trilionárias empresas financeiras: Blackrock, Vanguard, State Street Global Advisors, Fidelity e poucas mais.

Por exemplo: Exxon, Apple, JPMorgan, Johnson&Johnson, Ford, IBM, General Motors, Delta Air Lines, Unilever, Shell, BP, Colgate-Palmolive etc tem os mesmos donos, financistas, cujo capital está majoritariamente, senão inteiramente, em paraísos fiscais.

Onde está a competitividade com empresas do mesmo dono? 

Na farsa e na fraude. 

Estas sim, são as qualificações mais adequadas para a ação da banca.

E o que ganha o mundo, ganham os povos com isso?

O que disse o jornal?

Vejamos notícias recentes, colhidas no Monitor Mercantil, jornal especializado em economia e negócios, no Rio e São Paulo.

Da coluna “Fatos & Comentários”, de Marcos de Oliveira, retiro:
“Dois artigos publicados em junho pelo FMI passaram quase despercebidos – talvez pela proximidade das férias, talvez pela pouca receptividade aos temas. Mas merecem maior atenção. “A ascensão das grandes corporações”, de Federico J. Díez e Daniel Leigh, mostra que a crescente riqueza e poder econômicos das grandes empresas – de companhias aéreas a empresas de alta tecnologia – tem sido apontada como o motivo para o baixo investimento apesar do aumento dos lucros, para o declínio do dinamismo dos negócios, a fraca produtividade, baixa inovação e a queda da parcela da renda paga aos trabalhadores”.

“Uma análise mais aprofundada mostra que o aumento das margens nas economias avançadas se deve, sobretudo, às ‘grandes estrelas’ do setor empresarial, que conseguiram aumentar ainda mais seu poder de mercado, enquanto as margens das demais empresas basicamente se mantiveram estáveis. Curiosamente, esse padrão é encontrado em todos os setores econômicos de modo geral e não apenas na tecnologia da informação e da comunicação”.

“Divya Kirti, economista do FMI, começa seu artigo “O boom dos papéis de alto rendimento” fazendo um paralelo com a saúde. “Todos já ouvimos falar do colesterol bom e do colesterol ruim. Um excesso de colesterol bom provavelmente não fará mal nenhum, mas o excesso de colesterol ruim pode levar a um ataque cardíaco.” O texto mostra que o mesmo se aplica aos booms de crédito, períodos em que o volume de empréstimos na economia aumenta com muita rapidez”.

“Kirti conclui que os booms de crédito marcados por um aumento da proporção de títulos de alto rendimento foram seguidos por crescimento menor nos três ou quatro anos posteriores. 

Quando a parcela de alto rendimento aumenta um desvio padrão – medida estatística de quanto um número difere da média dentro de um conjunto de dados – o crescimento do PIB nos três anos seguintes é 2 pontos percentuais menor”.

Nos mesmos dias 13 e 14 de setembro de 2018, da Coluna de Marcos de Oliveira, leem-se também no Monitor Mercantil as seguintes manchetes:
“Investimentos federais desabam em 2019”, “Lucratividade industrial cai para 1,7%”, “Fusões e aquisições atingem maior valor em 8 anos”, “Vendas tem terceiro mês em queda”, “Inadimplência avança pelo 11º mês seguido”, “Petróleo Brent se aproxima de US$ 80 o barril com temores sobre oferta” e na coluna “Acredite se Puder”, de Nelson Priori,  “Roubini prevê que a crise financeira será em 2020” e “Presidente do BCE manda emergentes se precaverem”.
  
As consequências

Nas sociedades desiguais, liberdade e competitividade são fantasias. 

Como o neoliberalismo pretende-se global e não estando Estados e povos em nível aproximado de condições econômicas e sociais, a consequência será encontrarmos  nações opulentas e nações escravas e, dentro de todas, milionários e miseráveis.

“Um espectro ronda a Europa”, escreveram Marx e Engels na abertura do Manifesto de 1848. Parodiando diria que um outro espectro derramou-se pelo mundo, a cicuta neoliberal.

Logo após a “crise de 2008”, um grupo de economistas franceses publicou (valho-me da tradução portuguesa, Actual Editora, Lisboa, 2011) o “Manifesto dos Economistas Aterrados. Crise e Dívida na Europa: 10 falsas evidências, 22 medidas para sair do impasse”.

E na Introdução já apontam a farsa que se montou, não apenas para a crise - apropriação de recursos públicos para cobrir insucessos e prosseguir com especulações financeiras - mas na política de arrocho fiscal que se seguiu:

“A retomada econômica mundial, que se tornou possível graças a uma injeção colossal de fundos públicos no circuito econômico (dos Estados Unidos à China), é frágil, mas real. 

Apenas um continente continua em retração: a Europa. 

Reencontrar o caminho do crescimento econômico deixou de ser a sua prioridade política. 

A Europa decidiu enveredar por outra via, a luta contra os déficits públicos”.

E, como em passe de mágica, a grande prioridade dos Estados deixa de ser seus habitantes, seus cidadãos, passa a ser o “controle fiscal”.

Superavit primário, ajuste fiscal, déficit público, metas de inflação, câmbio flutuante, tripés macroeconômicos e mais uma quantidade de expressões e palavras para significar a única política pública: tudo para as finanças, nada para as pessoas.

E os governos não se envergonham de cortar subsídios à alimentação, recursos para saúde, aposentadorias para idosos objetivando manter rentável e saudável a finança privada.

 O que também não ocorre, pois a ganância, nada competitiva,  é maior do que os aportes públicos.

É um assunto que apenas inicio; os males são muitos e de toda ordem:

 financeiras, econômicas, sociais, culturais e morais. 

A banca, o neoliberalismo é o inimigo da humanidade.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado pedroaugustopinho@hotmail.com