Tuesday, December 12, 2017

A SOLUÇÃO QUE VAI DESPONTANDO


Tenho escrito sobre o verdadeiro problema que nos atinge, brasileiros e todos humanos, neste século XXI. 

Dou-lhe o nome “banca” e é o sistema financeiro internacional.

Se o caro leitor pensa ser a corrupção, sistêmica, partidária, ideológica ou seja lá que adjetivo lhe atribua, sinto decepcioná-lo.

A grande corrupção, que está em seu próprio modo de agir, é a realizada pela banca.

 Só que a banca dominando, também pela corrupção, quase todos os governos nacionais, em especial das maiores potências econômicas, faz com que você passe a considerar legítima sua corrupção, nem a distinga.

Por acaso irá associar, de imediato, um ato de governo alemão, inglês ou japonês à corrupção?

 Certamente não.

 Mas é o que majoritariamente ocorre, beneficiando a banca, o sistema financeiro.

Vamos, neste artigo, desenvolver algumas considerações sobre este esbulho, mas vamos também ensaiar um processo de resposta.

Temos hoje perfeitamente claro que a criação deste corrupto sistema teve dois momentos decisivos: o primeiro, em 15 de agosto de 1971, quando os Estados Unidos da América (EUA) romperam, unilateralmente, com o Acordo de Bretton Woods e aboliram a conversibilidade do dólar (USD) em ouro. Com isso as moedas passaram a não ter um referencial de valor e se deu a largada para a especulação cambial.

Não desenvolverei aqui algumas consequências desta primeira fase para o Brasil, mas ela foi importante para manipular a economia contra decisões nacionalistas dos governos militares.

O segundo instante ocorre na década de 1980, quando o Reino Unido e os EUA – formando, com a União Europeia (Maastricht, 1993), o mais forte poder financeiro do mundo – promovem a desregulamentação do mercado financeiro; um verdadeiro salve-se quem puder, colocando naquelas atividades todo dinheiro de origem ilícita do mundo. E dando enorme impulso aos “paraísos fiscais”.

A denominação que dou – banca – ao sistema financeiro internacional serve também para lembrar um importantíssimo poder que os Estados Nacionais abriram efetivamente mão para o sistema bancário: a criação da moeda, uma verdadeira ação de soberania.

Veja o caro leitor que, além da capacidade de criar moeda pela ação do crédito, as desregulamentações e a ausência de referenciais, entregaram ao sistema financeiro a capacidade de manipular dois importantíssimos fatores para toda economia: as taxas de juros e as taxas de câmbio.

Nem como piada vale dizer que são instituições como o Federal Reserve (FED) ou nosso Banco Central ou os  Bank of England pelo mundo afora que definem taxas de juros e de câmbio. Ou são explicitamente representantes dos interesses privados – como ocorre com Banco da Inglaterra, que surgiu, em 1694, como uma sociedade privada e voltou a o ser, a partir de maio de 1997, após por vários anos pertencer à família Rothschild – ou são simulacros “independentes” manietados pelos interesses bancários/financeiros.

François Morin, professor de ciências econômicas na Universidade de Toulouse, ex-Conselheiro do Banque de France, tem, entre vários e excelentes trabalhos, o livro “L’Hydre Mondiale – L”Oligopole Bancaire”, de 2015 (Lux Éditeur, Montréal), que desvenda o oligopólio formado por 11 bancos. Usarei, desta publicação, muitas informações neste artigo.

Já sabemos que os objetivos da banca são a apropriação de todos os ganhos obtidos por qualquer setor da economia e a permanente concentração de renda. 

Vamos ver um exemplo deste último objetivo.

Pela época anterior à largada da banca para a conquista do poder mundial, havia a denominação Clube das Ilhas (britânica, nipônica e Manhattan) para designar o poder financeiro. 
Entre a meia centena dos grandes bancos internacionais contávamos cinco, reduziram-se a três, japoneses (Mitsubishi, Mizuho e Sumitomo Mitsui).

Na lista do professor Morin, de novembro de 2014, temos: quatro dos EUA (Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs e JP Morgan Chase), três do Reino Unido (UK) (Barclays, HSCC e Royal Bank of Scotland), dois da Suíça (Crédit Suisse e UBS), um da França (BNP Parisbas) e um da Alemanha (Deutsche Bank).

Há um ditado financista que diz: o dinheiro não aceita ofensa. 

Nada agride mais uma economia do que o olhar parcial de uma ideologia. 

Os liberais, propugnando pelo inexistente mercado de anjos, colocam toda corrupção que o dinheiro pode provocar nas mãos dos mais ricos. Mas os que sonhem com o  paraíso dos seres altruístas repudiam decisões de totalitários governos fascistas.

Se concordarmos ser o poder do sistema financeiro sobre todos os demais poderes (político, econômico, militar, psicossocial, científico ....) o grande mal ou o maior de nossos problemas, precisamos atacar suas bases para reduzir esse  poder ou submetê-lo (como é minha convicção) ao verdadeiro poder, constituído pela livre vontade dos cidadãos de cada país.

Examinemos pois os pilares da construção da banca.

François Morin elaborou um quadro curioso dos 26 maiores bancos ditos sistêmicos – esta designação engloba aqueles cuja falência acarretaria um formidável transtorno econômico supranacional, os que, em 2008, foram apelidados “grandes demais para quebrarem” (too big to fail) – e da participação de seus dirigentes (presidentes, conselheiros) em cinco importantes entidades internacionais de economia, finanças e negócios (tipo Institute of Internacional Finance, Global Financial Markets Association). Todas tem, no mínimo, 15 representantes destes bancos em seus conselhos diretores que, no máximo, comportam 30 membros.

Também observando o mercado de câmbio – na ordem de USD 6 trilhões/dia, para 17 divisas (2014) – os 10 maiores bancos sistêmicos absorvem 80,4% do total de negócios.

Para taxas de juros a análise é mais complexa pois, além dos prazos, existem mercados referenciais internacionais, como da Libor (London interbank offered rate - ibor), da Euribor (Euro ibor), ou em Tóquio (Tibor). Também a combinação da moeda (divisa) com a taxa referencial faz surgir taxa específica, com a Libor para o dólar australiano, Libor para o franco suíço.

Até a conquista do poder no Brasil pela banca, após o Governo Geisel, havia a fixação do câmbio conforme a finalidade da conversão: dólar importação de petróleo, dólar importação de trigo, dólar turismo, dólar livro etc. Isto facilitava a definição de uma política econômica nacional sem a oposição da manipulação cambial pelo interesse da banca.

O mesmo ocorria nas taxas de juros para desenvolvimento industrial brasileiro, para incentivar a construção de moradias etc.

 Hoje, quando a banca, com o golpe de 2016, passou a dirigir todo poder – executivo, legislativo e judiciário – no Brasil, já se lê na imprensa o fim da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). 

Ora, como bem sabe meu esclarecido leitor, esta taxa foi criada objetivando, fundamentalmente, estimular os investimentos em infraestruturas, sistemas de telecomunicações, redes de distribuição de água e tratamento de esgoto e obras indispensáveis ao desenvolvimento econômico e social do Brasil.

O fim da TJLP significa que se pagará mais juros ao sistema financeiro se o Estado for investir nestas necessidades nacionais, pois, como já era evidente e o será mais ainda, não são aplicações da iniciativa privada.

Qualquer ação isolada, principalmente de país colonizado, está fadada ao fracasso.

 Mas o BRICS, do qual os golpistas pretendem afastar o Brasil, estão discutindo um “novo padrão ouro”, a moeda que tenha um referencial e será usada nas transações com a China e a Rússia.

O sucesso de duas economias, como a destes países, se agregada a do Brasil, as da Índia e da África do Sul provocaria indubitavelmente forte abalo na banca.

Antevemos na união dos países do BRICS, agregando outros possíveis opositores da banca – que ela chama “bolivarianos” e “ditatoriais” – um esforço positivo para reduzir a corrupção provocada pela ação corrente do sistema financeiro e a maior conquista de soberania para os Estados Nacionais.

Que os céus e esta época de alegria natalina nos embale. 

Desejando boas festas, se despede este avô, administrador aposentado.

Pedro Augusto Pinho

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