Somos, há 518 anos, uma colônia.
Imigrantes praticamos o genocídio dos povos autóctones, como o fizeram os espanhóis, ingleses e todos os civilizados europeus nas Américas, na África e por onde andaram.
Para cá também transplantamos enormes populações africanas, para nos servir como escravas, e garantimos, com sociedade submissa, dependente, permanente colônia aos senhores da ocasião.
Os primeiros aventureiros agiram como corsários, apenas interessados nos bens mais facilmente disponíveis e transportáveis.
Deram a este período uma roupagem econômica denominando-o ciclo do pau-brasil.
Mas verificaram que esta terra fértil e imensa poderia suprir a Europa de um produto caro: o açúcar.
Foram-se formando as bases da sociedade brasileira: escravista, agroexportadora, ignorante e dependente do estrangeiro.
A força com que esta classe permeou o imaginário nacional só tem semelhança com o inexistente empreendedor estadunidense, desbravador do oeste selvagem.
Mesmo empobrecida, cercada pelas dívidas, que é a principal arma do colonizador inglês, esta classe rural impediu a industrialização brasileira e ainda conduz, de modo elitista e antipopular, os destinos da nação.
Com o relho e o preconceito.
Assistindo programa de entrevista na TV Curta, canal fechado, cerca de 10 historiadores, pensadores, psicólogos expuseram suas compreensões sobre nossa história. Pareciam 10 países diferentes.
Por que estas desinformações?
Estas incompreensões tão gritantes? Estas óticas tão particulares e excludentes?
Nem pretendo, nem tenho a paranoia de dono da verdade.
Usarei o último livro do maior sociólogo brasileiro vivo: Jessé Souza, “A classe média no espelho” (Estação Brasil, 2018), suas pesquisas e análises, para orientar minha reflexões.
Inicio com a citação crítica da Lava Jato, elogiada à esquerda e à direita como redentora do País:
“Não entra no cérebro desses lacaios servis aos interesses dos seus senhores que a corrupção era seletiva e definida pelo algoz, o que explica por que apenas um lado tenha sido prejudicado e o outro ficado só com as vantagens”
Quem perdeu?
A industrialização, a engenharia, as empresas brasileiras.
Quem ganhou?
O sempre impune sistema financeiro e os interesses empresariais estrangeiros.
Vamos nos deter em dois pontos, vitais para a soberania, para a independência de qualquer país: energia e indústria, intimamente ligados.
Dois brasileiros e apenas eles merecem a qualificação de estadistas: Getúlio Vargas e Ernesto Geisel, não por mero acaso governaram com regimes autoritários, chamemos, para agradar gregos e troianos, ditatoriais. E ambos foram vítimas de golpes, pelas mesmas forças externas que lutam com uma parcela da classe dirigente brasileira pela manutenção do Brasil Colônia.
Não me deterei, já o fiz em outras artigos, sobre a formação da elite agroexportadora, que se colocou acima do Estado Nacional, desde 1808, e jamais, a não ser nos breves momentos de governo autoritário, saiu desta posição de mando e controle das decisões nacionais.
Repito que não há esquerda e direita no Brasil, há os que se submetem, hoje à banca (sistema financeiro internacional), e os que se voltam contra os colonizadores, até 1990 Estados Nacionais centrais (Europeus e os Estados Unidos da América - EUA).
Apenas um exemplo em Estado Central, para que se veja a ignorância e a desinformação que nos domina. Na Suécia, apenas 8% da hotelaria, por decisão de governo, pode estar em mãos estrangeiras.
Absurdo?
De modo algum. Protegendo a indústria nacional de mobiliários, materiais e equipamentos domésticos e toda cadeia produtiva a estes associada. Assim a Suécia garante emprego e renda para seus nacionais. Imagine se este setor estivesse em mãos alemães, onde estariam os empregos e as rendas?
A industrialização sempre foi combatida no Brasil. Não de modo franco e aberto como de Eugênio Gudin que dizia ser a siderurgia “coisa de branco”, não era para os mestiços brasileiros. Eram leis, regulamentos, orientações que, na prática, impediam o desenvolvimento industrial nacional. Veja a diferença das políticas de Vargas e da ação do BNDES nos Governos Médici e Geisel.
Vamos rever/reestudar a política de substituição de importações, tão brilhantemente conduzida por Marcos Pereira Vianna. Ao invés de desindexar despesas para cumprir o estúpido teto de gastos, como declarou ao Valor Econômico o “futuro ministro” Paulo Guedes (30/11/2018).
Voltemos à questão básica e estratégica da energia.
Nossos dois estadistas criaram as empresas que se tornaram referência internacional de capacitação técnica para conduzir a energia no Brasil: Petrobrás, Eletrobrás, Nuclebrás e o programa do Pró-álcool. Todas em processo de desestruturação, de infiltração política, de privatizações e desnacionalizações desde 1990, não por acaso o ano que a banca chegou, pelo voto, ao poder no Brasil.
O que nos leva - pois a ação administrativa é sistêmica, todos elementos estão de algum modo interligados, interdependentes - à questão da comunicação de massa.
Quem controla a comunicação de massa, a indústria cultural no Brasil?
Pois é esta força de comunicação que irá criar expressões, modismos, hábitos que influenciarão nosso modo de pensar e fornecerão os dados que corroborem suas farsas, seus preconceitos e desinformações.
Para ficar no exemplo da Petrobrás, foram seus técnicos que descobriram campos gigantes, no Brasil e no exterior, depois que as grandes empresas de petróleo - as majors - abandonaram estas áreas pela “inexistência” de petróleo.
Foi o caso do Campo de Majnoon, no Iraque, e vários, inclusive o pré-sal, no Brasil.
Hoje Majnoon está entregue à Royal Dutch Shell (anglo-holandesa) e à Petronas, da Malásia. E o pré-sal sofre o assédio das estrangeiras, estatais e privadas, no Senado.
Não sei se Lênin ou Stalin quem pronunciou a frase muito citada em artigos sobre energia:
"Socialismo é igual a poder soviético mais eletrificação".
Mas sem dúvida, o poder nacional está intimamente vinculado à energia.
Privatizar (o que significa internacionalizar o controle) a Petrobrás, a Eletrobras, a Nuclebrás, os programas de biocombustíveis, é colocar o Brasil de joelho.
A privatização vai também se infiltrando em novas formas de estrutura societária.
A Vale (ex-Vale do Rio Doce, uma riqueza brasileira sem semelhança no mundo), recebida em quase doação por empresário nacional e Fundos de Pensão de empresas de economia mista, está hoje desnacionalizada, legalmente mas ilicitamente, por jogadas com ações, vinculação ao “novo mercado” da Bolsa de Valores, acordos de acionistas, que entregaram 52,9% do capital para mãos estrangeiras e com outros prejuízos à participação nacional com conclusão, já definida, em 2020.
Mesmo o agronegócio exportador, que tão ardentemente defende e sempre apoiou a manutenção colonial, não percebe que a terra produtiva e a água doce já estão na mira dos interesses estrangeiros, transformando-os em “bens de mercado”, ou seja, para serem propriedade dos BlackRock, Vanguard, State Street Global Advisors (SsgA), Fidelity e outros trilionários fundos de investimentos de difusa propriedade pelos países centrais. Contra eles Blairo Borges Maggi, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias e outras importantes personalidades da agropecuária brasileira não terão qualquer força.
Tratemos de mais um tema sensível à independência nacional: o tráfico de drogas, de armas e ilícitos associados.
De acordo com o órgão da ONU para Drogas e Crimes (UNODC - UN Office on Drugs and Crimes), em 2010, este complexo econômico movimentou 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Apenas o narcotráfico, representava R$ 490 bilhões (14%), dos R$ 3.480 bilhões, que circulavam no sistema financeiro do país, segundo o ex-Ministro Chefe da Casa Civil (1995-1999), Clóvis Carvalho, no relatório da Comissão Especial de Estudos sobre o Sistema Financeiro, por ele presidida.
Engana-se quem vê o negócio das drogas, armas, tráficos de pessoas e órgãos humanos, lavagem de dinheiro e crimes semelhantes como ação de cartéis ou “famílias” mafiosas.
É um imaginário que a comunicação de massa ajuda a divulgar na proteção deste trilionário negócio.
É uma sólida cadeia integrada de produção, comercialização e finanças.
Com as desregulações de Thatcher/Reagan, ao longo dos anos 1980, os ilícitos fizeram “surgir no mercado”, entre 1990 e 2000, cerca de US$ 4 trilhões. Foi grande upgrade para a banca. Já nadando em petrodólares.
Parte desta fortuna está nas corrupções que um sistema parlamentar facilita, ainda mais num estado aparelhado.
Também tenho lido no facebook (pode não ser fonte confiável, mas relatórios bancários o seriam?) que as igrejas, notadamente as neopentecostais, que são abundantes em áreas carentes, estão sendo atraídas e incluídas no sistema de lavagem do tráfico. As “doações” , isenções tributárias, ausência de fiscalizações muito ajudam.
Toda esta gestão do crime, dos ilícitos, desagua na violência urbana, que foi dos temas mais importantes da última eleição.
É muito fácil ser técnico na segunda-feira, como sabe todo amante de futebol, mas é muito pertinente o que escreveu o sociólogo Francisco de Oliveira, em “O momento Lênin” (Novos Estudos CEBRAP, nº 75, julho/2006), cuja conclusão resumo a seguir.
Em 1917, Alexandre Kerensky assume a direção da Rússia (primeiro-ministro), uma republica parlamentar, com o fim do czarismo. Tenta salvar as instituições, cujo modelo desacreditado colocava sua autoridade diluída. Havia comandos independentes em diversos segmentos do Estado. Fracassa e é substituído pelos bolcheviques, liderados por Lênin, que derrubam aquele modelo parlamentar.
Não há repetição histórica, mas semelhanças em contextos diferentes.
Lula assume em 2003 um Estado já tomado pela banca. Não tenho certeza, talvez uma pesquisa histórica aprofundada nos esclareça porque não promoveu a reforma necessária ao controle do Estado.
Compromisso na manutenção da situação encontrada?
Falta de condição - técnica ou política - de alterá-la?
Conivência?
O fato é que seu destino, naquele momento, ficou traçado.
Kerensky foi derrubado pela liberdade parlamentar; Lula pela dinâmica do capitalismo financeiro.
O Estado Nacional Brasileiro, em 2018, ainda é uma questão em aberto.
O que nos aguardará 2019?
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
Bolsonaro por Eduardo Marinho. Brilhante!
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